Na proposta é evocada a história da Praça do Império, concebida em 1940, por ocasião da “Exposição do Mundo Português”, para “exaltar os feitos do colonialismo português e do seu pretenso projeto civilizador”. É ainda assinalado que a colocação dos brasões florais, que data de 1961, foi “realizada em contraciclo face ao contexto político internacional de então, numa altura em que vários países africanos e asiáticos haviam já conquistado a independência e muitos outros em breve lhes seguiriam os passos”.
Beatriz Gomes Dias lamenta que, no passado dia 14 de fevereiro, a cidade de Lisboa tenha renovado “os seus votos de louvor e fidelidade ao passado colonial em contraciclo com a História, ao insistir na reposição dos brasões no jardim da Praça do Império, desta vez sob a forma de calçada, gravando assim na pedra a nostalgia colonial que ainda afeta fortemente a sociedade portuguesa”.
“Esta reinscrição da memória colonial reifica os mitos da colonização, quer enquanto missão civilizadora que desbravou mundos para levar a fé e as luzes, quer como um projeto lusotropicalista de brandura e irmandade. É mais um episódio que denota a falta de releitura crítica da História portuguesa”, escreve a vereador do Bloco de Esquerda na Câmara Municipal de Lisboa.
Beatriz Gomes Dias assinala ainda que, ao longo dos anos, “vários países europeus abriram um debate amplo sobre a sua história colonial e têm vindo a refletir acerca das consequências da ocupação colonial, que perduram até hoje nos territórios que ocuparam e no seu próprio, e em formas de reparação”.
A inauguração, em 2023, da versão calcetada dos brasões dos territórios ocupados por Portugal constitui, por sua vez, “uma glorificação anacrónica da violência e opressão do passado colonial de Portugal, que ainda hoje mantém feridas abertas na memória coletiva”.
“Esta forma acrítica, extemporânea e inaceitável de retratar os eventos históricos ignora os valores da liberdade e da autodeterminação dos povos que lutaram de forma incansável pela independência que conquistaram”, lê-se na proposta de voto de repúdio.
No documento, Beatriz Gomes Dias enfatiza que “uma sociedade que tem como projeto a manutenção e a cristalização da violência, da exploração e da dominação coloniais no espaço público não assume um compromisso sério com todas as pessoas que nela vivem nem com os países com os quais apregoa possuir uma irmandade”.
O Bloco propunha não só repudiar a permanência dos brasões coloniais dos territórios ocupados por Portugal no jardim da “Praça do Império” como também iniciar um verdadeiro processo de descolonização da memória histórica presente no local e em toda a cidade de Lisboa.